sexta-feira, maio 26

Os amantes sem dinheiro

Tinham o rosto aberto a quem passava.
Tinham lendas e mitos
e frio no coração.
Tinham jardins onde a lua passeava
de mãos dadas com a água
e um anjo de pedra por irmão.

Tinham como toda a gente
o milagre de cada dia
escorrendo pelos telhados;
e olhos de oiro
onde ardiam
os sonhos mais tresmalhados.

Tinham fome e sede como os bichos,
e silêncio
à roda dos seus passos.
Mas a cada gesto que faziam
um pássaro nascia dos seus dedos
e deslumbrado penetrava nos espaços.

Eugénio de Andrade

Prossigo esta breve viagem pela poesia de Eugénio de Andrade. Hoje deixo os Amantes sem dinheiro.

3 comentários:

Afonso Sade disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Afonso Sade disse...

Ora aqui está um belo poema para os jovens casais Portugueses!
Da maneira que isto caminha, os casais de namorados serão nada mais do que "Os amantes sem dinheiro", não achas? ;-)

Anónimo disse...

Exactamente!
Um poema com grande actualidade!