quarta-feira, maio 31

Entre os teus lábios
é que a loucura acode,
desce à garganta,
invade a água.

No teu peito
é que o pólen do fogo
se junta à nascente,
alastra na sombra.

Nos teus flancos
é que a fonte começa
a ser rio de abelhas,
rumor de tigre.

Da cintura aos joelhos
é que a areia queima,
o sol é secreto,
cego o silêncio.

Deita-te comigo.
Ilumina meus vidros.
Entre lábios e lábios
toda a música é minha.

Eugénio de Andrade

4 comentários:

BadSeed disse...

"a loucura acode" e eu até acrescento que sem ela nos afogávamos todos os dias!

Anónimo disse...

Tenho uma palavra para ti e para o poema...
Uau!!
Nem quero saber o que te ia na cabeça quando o escolheste :)

Anónimo disse...

Este é fantástico. Adorei!!
Fico à espera de mais.
Isto de misturar ciência com poesia parece ser uma boa combinação..........

Afonso Sade disse...

"Da cintura aos joelhos" na minha opinião queima-se outra coisa! Ou pelo menos fica o cheiro a algo queimado...

Gostei, mto!